quarta-feira, 14 de abril de 2010

Produção e difusão de música, ontem e hoje – Pontos de vista sobre algumas mudanças (parte 1 de 2)


Nos meios de difusão


        Às vezes não paramos para pensar no tempo em que vivemos. Quem produz música (e outras formas de arte) hoje, possui uma ferramenta com capacidade de difusão inimaginável há algumas décadas: a Internet. Talvez, por estarmos acostumados com toda a tecnologia que fazemos uso no dia dia (alguns mais e outros menos), acabamos não percebendo o quanto as coisas mudaram. “The Wonders - O Sonho Não Acabou” é um filme maravilhoso que mostra um pouco o que era ter uma banda nos anos 60. Com roteiro, direção e atuação de Tom Hanks, o filme mostra a trajetória de uma banda fictícia, os The Oneders, da pequena cidade de Erie, na Pennsylvania. A banda, que é posteriormente rebatizada como The Wonders pelo seu empresário Mr. White (Tom Hanks), passa a fazer sucesso após uma apresentação de calouros, onde sua música “That Thing You Do!”, originalmente uma balada, tem seu ritmo alterado pelo baterista substituto Guy Patterson (Tom Everett Scott), fazendo dela um verdadeiro hit. Essa música é realmente muito boa, ela cola de verdade no ouvido. Letra e música são de autoria de Adam Schlesinger, baixista e vocalista do Fountains of Wayne, banda que, aliás, gosto muito. Mais duas músicas da trilha sonora, que recebeu indicação ao Oscar e ao Globo de Ouro, são de sua autoria. O momento mais emocionante do filme acontece quando os integrantes ouvem pela primeira vez sua música, “That Thing You Do!”, ser tocada no rádio. Uma cena realmente indescritível, arquitetada magistralmente por Tom Hanks. Naquele momento, aquela banda, que pouco tempo atrás tocava em uma garagem, pôde ser ouvida por milhares de pessoas.
        Hoje já não é necessário que sua música seja executada em uma rádio para se tornar conhecida, graças à Internet. Através dos blogs, das diversas redes sociais, dos diversos sites especializados etc, pode-se divulgar música de maneira direta e gratuita para milhares de pessoas. Não quero dizer aqui que não seria emocionante poder ouvi-la no rádio. Eu sempre gostei muito desse meio de comunicação que atinge de forma gratuita um número imenso de pessoas, porém, sabemos que o rádio hoje distancia-se da visão romântica de décadas atrás. Está longe de ser um meio democrático. Veio-me à cabeça agora a música “Se o rádio não toca” do Raul Seixas (o qual reconheço como grande artista e do qual não sou fã): "Se o rádio não toca! / A música que você quer ouvir / Não procure dançar / Ao som daquela antiga valsa / Não! Não! Não! Não!... / É muito simples! / É muito simples! / É só mudar a estação / É só girar o botão / É só girar o botão..." O problema hoje é que girar o botão já não é a solução... e sem querer rimou!... e se ainda fosse valsa... Bom, o fato é que, salvo algumas exceções (rádios públicas, de universidades, não comerciais, comunitárias), as rádios estão tocando o mesmo tipo de música. Não é raro trocar de estação e ouvir a mesma música que estava sendo executada na anterior. Mera coincidência? Não! É o famigerado jabá, mala preta mesmo. Dinheiro oferecido pelas gravadoras e que garante as execuções diárias em programações. Uma verdadeira relação perniciosa, onde os prejudicados são os ouvintes, que são obrigados, ou não, a engolir uma programação homogênea. O que ocorre é um crime, pois as rádios, que tem concessões públicas, trabalham como se fossem empresas privadas vendendo não o espaço comercial, mas o espaço da programação diretamente. Assim, somente artistas que fazem parte de gravadoras fortes, que podem bancar o jabá, é que são visíveis, ficando uma imensa maioria de artistas com talento, com conteúdo, que verdadeiramente fazem arte, relegada à obscuridade. Esse assunto já não é nenhuma novidade, o jabá tem sido denunciado há um bom tempo e ele existe também há um bom tempo, talvez há décadas. O artista mais representante da luta contra o jabá, como muitos devem saber, é o cantor Lobão, que conseguiu trazer à tona essa questão, inclusive contribuindo com suas ideias para o Projeto de Lei 1048 (de autoria do deputado Fernando Ferro (PT-PE)), que visa criminalizar a prática do jabá.

Continua no próximo post.


FONTES

THAT THING YOU DO!. Direção de: Tom Hanks. Produção: Jonathan Demme; Gary Goetzman; Edward Saxon. Intérpretes: Tom Everett Scott; Liv Tyler; Johnathon Schaech; Steve Zahn; Tom Hanks. Roteiro: Tom Hanks. United States: 20th Century Fox Film Corporation, 1996. 1 DVD (108 min).

THAT THING YOU DO!. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2010. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=That_Thing_You_Do!&oldid=19380719>. Acesso em: 31 mar. 2010.

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